terça-feira, 24 de abril de 2007

quando as crianças não pagavam bilhete

Cheguei ao cais e a lancha estava mesmo ali, à minha espera, não fora premeditado, mas vinha mesmo a calhar, e fiquei vendo as pessoas a entrarem e a despedirem-se umas das outras, até breve, bom fim de semana, volta depressa, umas riem e outras choram, cheias de sacos, malas e merendas, e se eu entrasse também, o arrás certamente não iria dizer nada, era só para visitar, porque não, e assim foi, entrei e deixei-me ficar, como quem nada quer, uma distracção, um esquecimento. Quem é? Ninguém sabe dizer a quem pertence. Esta menina, está perdida, sozinha e agora, a lancha já vai no mar alto, e eu, respiro de alivio, escapei.. Mas, não escapei coisa nenhuma, daí vem o interrogatório, quem és, donde vens, quem são teus pais, tens bilhete, para onde vais, quem te deixou aqui? Tantas perguntas e nada de respostas. Há, que pôr a cabeça a funcionar, ser rápida, uma mentirinha, uma a mais, outra menos, já não faz diferença e enrolo-me nas minhas justificações, inventadas na hora, ora vou ter com uns primos, quando chegar vão estar a minha espera, lá no cais, a senhora vai ver como é verdade, a minha mãe deixou-me ali, tinha pressa, ia trabalhar, ela depois vai lá ter, mas eles estão a minha espera...vai ver.. Ai piquena, nã tens fome, olha que são muitas horas de viage e o mare fica brave lá para o lades da travessa? A travessa e o que é isso a travessa?? E a senhora embrulhada em sacos e merendas dá-me de comer, tremoços, pão com queijo, e a lancha lá vai, o mar não está muito bravo, mas e a travessa? Passam-se duas horas ou três, quando se é criança a noção de tempo ou é grande ou pequena, mas ali quanto mais o tempo se alongasse, melhor seria, não se vê a travessa, mas sente-se, as águas começam a movimentar-se com mais força, e as vagas começam a ser maiores, e começam as perguntas, tens mede, e enjoes? e eu nada, eu tenho cá medo e enjoos nem sei o que isso é.... os lancheiros descem as lonas laterais da lancha e amarram-nas nas bordas, e o mar num vai vem cada vez mais furioso e a lancha a tchap tchap nas vagas, podem ir até dois metros e meio de altura, chegam a cobrir os barcos completamente. Agarro-me ao meu tesouro, uma bolsinha azul turquesa, lá dentro tem algo que tento esconder para que ninguém veja, vou ter de atirar ao golfinhos, mas não posso fazê-lo, estou a ser vigiada, não vale a pena despertar desconfianças......... Continua....

8 comentários:

  1. que bonito!

    fico à espera da continuação...

    beijinhos

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  2. adoro golfinhos, sempre tive vontade de afagar um... nunca o fiz...

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  3. Oh tufa! este comment foi mesmo tau no meu...

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  4. não tinha visto ninguém no pedaço... estava olhando para os golfinhos... pensando em afagá-los... a virtualidade tem destas coisas

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  5. Olá!
    Vim ver se já tinha começado a 2.ª parte...
    Volto mais tarde.

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  6. agora as crinaças já pagam bilhete, quanto mais não seja meio.

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  7. pois olha, eu fartei-me de andar de autocarro de borla, aliás, estava sempre de viagem.....nem que fosse a correr......

    beijos
    burlesconi, agora já podes ler o resto da história.
    obrigada pela visita
    beijos

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